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Andreia Lima

TRABALHO DE FORMIGUINHA


"Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar.

Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota."

Madre Tereza de Calcutá

Cada trabalho voluntário tem sua peculiaridade e além do conhecimento técnico, nos agrega muitos valores. Contarei um pouco da minha recente experiência voluntariando na Copaíba, que além de ONG é qualificada também como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), sediada no município de Socorro, interior de São Paulo.

A Copaíba trabalha há 20 anos com a restauração da Mata Atlântica nas bacias do rio do Peixe e Camanducaia. Sabe aquela história de trabalho de formiguinha? Pois bem, de muda em muda se tornaram gigantes, não só pela enorme responsabilidade, mas também pela excelência e paixão que têm pelo que fazem.

Ao chegar no terreno gentilmente doado por uma família, encontrei um verdadeiro processo industrial (todo manual!) de mudas nativas. É algo surreal que eu nunca imaginei que o humano conseguiria replicar.

Desde a coleta manual das sementes, prezando por manterem o banco de sementes do meio; o armazenamento; a germinação manual que cada espécie precisa, cada uma de uma maneira, coisas que não encontramos facilmente em qualquer literatura e que elas tiveram que aprender na prática. Após a germinação na estufa, passa-se por uma seleção manual e então as pequenas mudinhas passam para outro local, onde ficarão alguns dias até atingirem o tamanho ideal e serem novamente selecionadas manualmente para irem para o ambiente externo aguardando a sua ida para a área que necessita ser restaurada.

São algumas pessoas que estão ali diariamente lutando por financiamento, acompanhando cada projeto, cada propriedade, germinando, plantando e replantando, limpando muda por muda, aguando, e vendo a saúde das pequenas... Uma verdadeira engenharia de produção, porém tudo ali tinha um sentido a mais, um objetivo maior, um sonho – reflorestar a Mata Atlântica. Sonho que já plantou mais de 500mil mudas, restaurando mais de 340 hectares.

Muitos dos proprietários rurais que vão até a Copaíba (a mais de 20km do centro de Socorro) estão preocupados com a seca das nascentes em suas propriedades e o assoreamento dos rios pela falta da mata ciliar... Água, tão essencial para as nossas vidas, e do alimento que eles cultivam em seus terrenos, diretamente ligada com a conservação das matas nativas. Não subestimem, tudo está interligado.

Não era fácil todo o trabalho manual, sentindo o calor da estufa, o sol no corpo, mas a delícia que era o vento refrescante na pele e o alívio que dava quando o irrigador ligava... Assim como sentir a textura de cada planta nas pontas dos dedos, e seus aromas... Qualquer cansaço passava na hora e vinha uma gratidão imensa por poder vivenciar tudo aquilo.

Confesso que aprendi pouquíssimo sobre o nome das plantas. Primeiro, por que minha memória é péssima, segundo que são mais de 100 espécies! Mas, garanto que aprendi muito mais sobre sentir, cooperar, integralidade, conectividade e sobre sonhos que se tornam realidade, graças a pessoas que não se conformam e acreditam que poder fazer diferente com as próprias mãos.

Ah! Se essas formiguinhas soubessem a "responsa" que elas têm e como fazem de maneira tão maravilhosa! Prezando pelos nossos recursos hídricos e ajudando a melhorar a vida de todos os seres que dependem direta ou indiretamente desse ambiente.

A causa não é política, mas sim muito maior. Não é só deles, é a nossa a missão de conservar e restaurar as matas e, assim, garantir o futuro de TODAS as espécies (inclusive a nossa, tá?!). À Copaíba minha enorme gratidão.

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